Bom, normalmente vocês me verão falando aqui sobre música, mercado fonográfico, bandas novas, e coisas do tipo. Mas hoje resolvi tratar sobre um tema engraçado que acabei percebendo ao ler um tablóide esportivo bem popular aqui no Rio de Janeiro. Pode-se dizer que foi um Lance que eu li num jornal.
O Flamengo planeja a contratação de um jovem talento que joga no Paraná Clube. Até aí morreram neves, claras e gemas. O melhor da coisa está no desenrolar da matéria que explica as dificuldades de tal contratação.
O passe do jovem talento, que possui apenas vinte e um anos, perpassa por uma negociação com o Paraná, clube onde o jogador atua, o empresário, que mantém uma parte do passe do jogador, o Coríntians, clube com o qual o jogador possui vínculos, e por último, o próprio jogador, é claro. Nesse ponto todos se perguntam: “que diabos o Lean está falando?”.
Para entender o ponto de vista temos que fazer uma pequena análise de a quantas anda o futebol nacional (senão mundial). Hoje em dia qualquer jovem promessa de talento futuro em qualquer peneira de futebol de várzea possui um empresário por trás que negocia seus passes por preços bem acima do que eles realmente valeriam para com isso, conseguir publicidade sobre o nome do jogador e, conseqüentemente, aumentar ainda mais o valor do passe do mesmo. Nesse caminho foram criados incontáveis campeonatos sub-qualquer-coisa a fim de valorizar o futebol praticado por esses garotos que ainda não estão prontos para assumir um posto nos times principais de suas respectivas equipes. Existe toda uma gama de campeonatos, desde mundiais, mundialitos, copas Américas, estaduais, tem de tudo para mostrar ao mundo como joga aquele garoto de 14 anos, aquela promessa de 16. E é justamente nesses nichos que os empresários agem, trazendo profissionalismo a uma criançada que ainda está brincando de jogar bola (e jogando muitas vezes melhor que os próprios profissionais).
Bom... daí que quando você transforma um garoto de 14 anos numa jovem promessa do futebol, há de se arcar com tal despesa para transforma-lo no talento. O empresário investe em divulgação do nome, aumenta multas rescisórias, negocia com o estrangeiro, faz o diabo a quatro para que quando esse jogador chegar aos 21 anos possua um valor muito maior que aquele que não tem preparo mercadológico nenhum. Está aí feita a tal análise.
A isso costumou-se chamar de profissionalização do futebol. Clubes virando empresa e tratando seus jogadores como seus mais importantes empregados. Contratando olhando para o mercado e não para o talento individual, investindo fortes quantias para que seus times não percam campeonatos e se perderem, para que no ano seguinte participem do maior número de campeonatos a fim de conseguir fundos para manter toda a estrutura de pé. A máquina de vencer deixou de ser algo por paixão e se tornou um negócio especulativo como ocorre na bolsa de valores, quem souber investir melhor tem mais chances.
De certa forma isso foi bom, pois hoje em dia podemos passar nossas noites de quarta e nossas tardes de domingo assistindo a futebol na televisão, sem contar aqueles que possuem pacotes pagos que podem ficar 24hs por dia vidrados nos principais lances do Brasil e do Mundo. E foi bom também para o tal jovem talento que com vinte e um anos ganha o que Garrincha, Rivelino, Mirandinha, Nunes, só para citar alguns dos grandes talentos do futebol nacional, não ganharam com suas idades (ou mesmo por toda a vida) como jogadores (não exemplificando o caso do jovem apoiador, possível contratação do Flamengo, uma vez que nem sei qual o valor de seu passe). Hoje uma jovem promessa ganha muito mais que Pelé com 18 anos consagrado campeão na copa de 58. E isso é bom para o jogador.
Porém alguém tem que perder, e quem perde, infelizmente, é o futebol dos menos favorecidos financeiramente que vê suas futuras estrelas não vingarem por conta de falta de maturidade para lidar com o tal profissionalismo precoce ou brilharem no exterior por conta de melhores oportunidades e melhores salários. A arte de jogar futebol substituída pela profissão de jogador de futebol.
O paralelo engraçado que citei no início é justamente com a música. Hoje em dia o meio musical é muito mais profissional que antes. Hoje em dia, em home studios, é possível se forjar uma banda muito boa, tal como foi feito com o Moptop. É possível se adquirir equipamentos de qualidade de forma mais simples, é possível conseguir espaços para tocar, divulgação, tudo no meio independente. Porém, de certa forma, essa profissionalização da música tirou aqueles lampejos de inspiração dignos de Hendrix ao queimar sua guitarra, ou a sujeira pobre do revolucionário Nirvana, e até mesmo toda aquela experimentação barata do Hermeto Pascoal. Quanto mais profissional a música se torna, mais é exigido dos músicos, tanto em conhecimento, quanto em equipamento, suprimindo de certa forma aqueles pequenos gênios que não dominam nenhum dos dois. A arte de compor música substituída pela profissão de músico.
Mas como vocês já devem imaginar, eu posso estar errado.
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