I´m not here. this isn´t happening
Há algum tempo atrás eu escrevi um post com uma resenha sobre o In Rainbows no qual eu dizia que: "Uma viagem a um lugar mágico onde a chuva dá o tom da ambiência, onde a felicidade é relativa, onde a música é relativa, onde a venda é relativa". Bom, acho que meu tour por In Rainbows se encerrou no último dia 20 de março de 2009 na praça da apoteose, Rio de Janeiro.
Não vou me demorar falando sobre o show, na minha opinião, burocrático porém emocionante do Los Hermanos nem do maravilhoso espetáculo audio-visual do Kraftwerk para não perder o foco que acredito, 87% das pessoas que estavam lá tinham. O grande show da noite. Radiohead.
Dj tocando Reggae, toda aquela tensão no ar. Eu não acreditava até o último segundo. Quando os aplausos explodiram e ouvi as batidas que anunciavam 15 steps. Era verdade. E eu estava lá. As danças frenéticas de Thom, os pulos descompassados de Collin, a esquisitice suave de Jonny, a felicidade incontida de Ed e a precisão séria e britânica de Phil. Tudo lá, com suas luzes, suas câmeras de palco, seus aparelhos eletrodomésticos que produzem som. Parecia que eu estava de frente a minha televisão assistindo a apresentação deles em St. Barbara, ou no Japão, todos os lugares, menos no Brasil.
Airbag, com seus riffs absurdos, rasgaram a membrana da dúvida. Realmente não era um sonho. O que foi impressionante foi a fúria das guitarras e o sorriso de Ed’Obrian que parecia realizar um sonho tanto quanto quem estava na platéia. Ao fim das músicas os tambores colocados ao lado do palco já anunciavam que viria mais um momento único. Aliais, esse show por si só, já era um momento único, pautado por pequenos sonhos. There There e sua sombria harmonia invadiram nossos ouvidos como uma flauta indiana a cobras que balançavam ao som das batidas e das guitarras.
Fôlego... fôlego... All I need. Uma das músicas que eu considero mais bonita do In Rainbows. Com o clima das luzes terminou o processo de hipnose iniciado em There There. Éramos agora, na praça da apoteose, uma massa uniforme de notas, sinos, paixões e lágrimas.
Thom pega um violão e todos pensam “o que virá agora?!” e para surpresa de todos, Karma Police pode ser ouvida de forma clara em suas primeiras notas para delírio dos fãs. Nesse ponto, uma nota: no término da música, quando todos extasiados batiam palmas, comecei a cantar o refrão final, a comoção tomou os que estavam em volta e logo toda a apoteose estava cantando o refrão final, o suficiente para Thom voltar e cantar conosco. Perfeito, principalmente pra mim que iniciei isso.
Nude e seu baixo marcado nos tirou do chão e em seguida weird fishes nos sacudiu no ar num espetáculo não só sonoro, mas de luz também. Quando todos tentavam se recuperar, um rádio sintonizado em alguma rádio evangélica anunciava o que estaria por vir. The Nation Anthem e suas sirenes vermelhas abalaram as estruturas do palco do samba com tensão e ritmo. Logo depois a música que eu esperava ouvir desde a tour do hail to the thief. The Gloaming, dançante, eletrônica, viva. Thom e seus trejeitos... suas danças... um sonho.
Faust Arp linda como sempre, irrompeu do meio do palco por Thom e Jonny com seus violões magicamente perfeitos. E sem surpresas, após essa beleza de balada, No Surprises. Outra balada pra acalmar os corações mais furiosos por pular. Mas esses não imaginavam que logo após esse momento de pausa e braços para o alto viria Jigsaw Falling into Place. Pra pular, cantar junto. Emendada com Idioteque fizeram o trecho mais dançante do show.
Quando eu já me preparava para deixar de acreditar em outros deuses e reverenciar o Radiohead como o show mais perfeito que eu assisti, uma pedrada me deixou atordoado. I Might Be Wrong... eu não acreditei! Uma das minhas preferidas. Amnesiac. O disco que eu mais gosto do Radiohead.
Depois desse momento não havia sanidade que se recuperasse. Thom pega seu violão e toca os primeiros acordes de Street Spirit (Fade Out) e a certeza de que não há mais nada além daquele momento no mundo, me assola. Nem os acordes furiosos de Bodysnatchers são capazes de me atentar que existe matéria além das fronteiras do som do Radiohead. How to Disappear Completely fecharou a primeira parte do show com maestria. Poderíamos todos termos ido embora naquele momento. Já teria sido o show mais maravilhoso aportado no Brasil nos últimos anos. Mas queríamos mais, e eles nos deram mais.
O primeiro bis começa com o piano no meio do palco e os primeiros acordes de Videotape dão a impressão que não haveria como o show ficar melhor. Mas havia como. E eles sabiam como. Paranoide Android foi a resposta a quem acreditava que existe um máximo para a beleza de um show. Rain down cantado por 24 mil vozes, show de luzes... Sem palavras.
House of cards fez sala para que pudéssemos olhar pro lado e dizer “cara, o que eles estão fazendo. Eu vou morrer aqui! Ninguém pode ser tão feliz”. Mas pode sim. E o Thom provou isso ao puxar os primeiros acordes de Just. Nova onda de insanidade no Rio de Janeiro que só terminou ao fim dos últimos samples em Everything in it´s right place. Bom. Agora acabou! Eles sempre terminam com Everything. Acabou agora né?! NÉ?!
Não! Piano no meio do palco. Anúncio “Esta é por todas as vezes que a América do Norte tentou fuder com vocês” e (!!!!!) You and Whose Army(!!!!). Eles leram meu pensamento?! Depois disso eu esperava qualquer coisa. Queria que acabasse o mundo. Porque não haveria felicidade maior. Reckoner me fez pensar em como eu viveria depois daquilo. E para finalizar, como eles não poderiam deixar de nos fazer chorar, Creep invadiu nossos ouvidos de forma inesperada e extremamente emocionante, com sua brancura e simplicidade violenta. Um grito para todos que estavam ali, um pedido de ajuda, uma mão amiga, tudo!
Luzes apagadas, agradecimentos, e estava findada a saga. Saí do show com a certeza de que em nenhum lugar do mundo, naquele momento, haveria alguém tão feliz quanto eu. E a certeza de que demoraria muito tempo para que eu fosse feliz novamente. Talvez com uma nova vinda do U2 ao Brasil, quem sabe. Quem sabe ao menos dessa vez eu consigo assistir um show deles. Eu não acreditava mais no Radiohead por aqui e aconteceu. Aconteceu! Isso tudo que eu relatei. Queria que o tempo parasse. Queria desaparecer completamente e nunca mais ser achado após o show, ou ao menos ter dinheiro para acompanhá-los por toda a tour sul-americana. Pela Europa, pelo mundo.
Ainda ecoa por meus ouvidos o som, ainda ouço de longe... everything... in it´s right place....
3 comentários:
Radiohead é coisa de viado
Considerando 20/03/09, que é diretamente proporcional a 25/03/07, conclui-se que a amplitude das ondas mecânicas apontadas é um valor irracional.
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