sexta-feira, 25 de abril de 2025

Feliz Ano Velho

Amo o profundo
Mergulho, me banho

Abraço as águas ao meu redor

Me envolvo, me entrego

Me abro de dentro pra fora

E bebo com gosto

O que me pega

Que me enlaça

Com imensidão e sonho

Espera e gozo

Desejo e futuro.

Amo o profundo.


Por vezes mergulho

E é impasse

É sem interesse

É raso. 

Bato a cabeça

Paralizo

Do pescoço pra baixo

Hospital

Remédios

Recuperação

Por vezes, cadeira de rodas

Até conseguir novamente subir na pedra

E pular em outro mar. 


Amo o profundo

Por vezes, não é tão fundo.


Lean Valente

25/04/2025

22:17

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Vago

Já já acaba
Acaba o céu, acaba o chão
acaba o sonho e a ilusão
a rima não foi intencional
foi mal, por não ser
exatamente como deveria
importante, entre diferentes
já já pendura
perdura esse espaço
vazio sem significado
sem dados concretos
de passado, que passado
se sem memória não há história
não temos o que fazer
terça, quinta ou sábado
qual diferença faz
se não ser é estado perpétuo
se manipulado e descartado
ainda preciso ser à sombra
uma vaga lembrança incomoda
que custa valor
ser pelo que gasto
gasto que é o que sou
para aplacar a dor
de ser responsável, é mais fácil
fugir, eu sei bem
já estive aí
já estive aqui
não sei onde estar
sem o medo não há
sem desejo não há
sem existir como há
aaaaahhhhh.
não me permito gritar
fecho minha garganta com doses
para calar as vozes
para seguir não sendo
nada importante, nada para ler aqui
nada a dizer porque não tem ouvintes
nem aqui nem lá
nem por mim,
nem em lá maior
batimentos por minuto
tocando música
sem ouvinte
no silêncio
balançando sem fim
sem memória
sem ser 
100
300
700
2500
3600
segundos
metros
quilos
de peso
sem importância
cortado num golpe só.

Lean Valente
24/04/2025
15:33

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Rotas de Colisão - Música

Inspirada no livro "O chão que ela pisa" de Salman Rushdie

Muito mais, além 
do que se pode imaginar
Frio como o céu, 
de longe eu vejo a estrela brilhar.

Será que é passado
Ou apenas segundos de amor
Sinto tudo sozinho
Embaixo do cobertor.

Retratos e canções 
De quem partiu e já não volta mais
Ou talvez nunca existiu
Será que vou ficar em paz?

Depois da melancolia
Ainda tem essa desilusão
É que quando eu pensava em guerra
Descobria uma nova paixão.

Te vejo no outro mundo
E esqueço que ainda sou de cá.
Tento romper barreiras, mas
Não há caminhos para voltar.

Existe uma colisão, eu sei
Um dia de reencontrar
Mas dentro desse espelho
Não dá mais pra aguentar.

E eu disse pra você
Que no outro mundo eu não posso ficar
Eu disse pra você
Que na fronteira eu tenho que parar
Eu disse pra você
Que a gente ainda não se separou
Eu disse pra você
Mas você não me escutou.

sexta-feira, 18 de abril de 2025


É tão bom ver quem você ama feliz!

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Apenas Meu - Música

O que eu te disse ontem
Não foi nada além do que sei
E o que procuro
Encontra sempre um talvez.

Mas agora chove
E eu quero pensar que não existe além
Que ninguém me mostrará
Os lugares onde errei.

Vem depois, 
Porque amanhã eu quero ser alguém.
Vem depois, 
Que duvidar é só certeza de me conhecer.

Meu alimento é noite
Sobram lágrimas nessa chuva
E mais que amar, eu quero acordar
Antes de me cansar.

Vem depois,
Porque amanhã eu quero ser alguém.
Vem depois, 
Que duvidar é só certeza de me conhecer.

O que eu te disse
Foi só pra esquecer.
Porque meu mundo é só meu
Porque você sou Eu.

terça-feira, 15 de abril de 2025

 Sobre Palmitar


Eu palmito não porque tenho preferência por mulheres brancas. Muito pelo contrário. dos poucos relacionamentos que tive, houveram mulheres pretas. Inclusive houveram mulheres pretas que não me quiseram como relacionamento, seja pelos motivos que fossem, uma vez que sempre fui homem eis e atravessado pelo racismo e pelo patriarcado. Eu palmito pq no meu círculo, geralmente, mulheres brancas são maioria (depois de homens brancos), seja pq estudei em um colégio particular a partir dos meus 12 anos, seja pq fui pra universidade antes do sistema de cotas, seja porque gosto de Rock que é um lugar majoritariamente branco, seja pelos lugares que frequentava e me sentia bem, que não o lugar onde vivia, onde mulheres brancas também frequentavam majoritariamente.


E palpitar não é demérito nem algo que eu precise ter vergonha. Ser racializado é uma vergonha. Não para mim, mas pra quem me olha e não consegue enxergar que existe uma pessoa por trás da cor da pele. Já tive afetos gordas, pretas, brancas, neurotípicas. 


Nem todos se transformaram em relacionamentos monogâmicas, uma vez que sempre fui monogâmico, mas, por mais que a sociedade só me validasse ao estar com mulheres brancas, fazendo bullying quando tinha esses afetos divergentes, eu gostava de quem gostava de mim. De quem trocava comigo. Até a troca não existir mais. Por afetos considero paixão platônica (não realizada), paixão realizada, apenas sexo, namoro, casamento. Todo o tipo de afeto, sem levar em conta tempo de relação porque alguns nem se concretizaram e outros eu nem pude concretizar, seja por não ter independência (por ser adolescente e morar com a minha mãe que era a primeira a negar esses relacionamentos por diversos motivos) seja por escolha minha ou do outro. 


Para exemplificar, quando eu tinha por volta de 14/15 anos, houve uma festa de fim de ano na casa da minha mãe num fim de semana com as amigas e amigos dela de trabalho e conheci a filha de uma amiga dela. passamos um dia maravilhoso conversando e nos conectamos. nos beijamos e quando voltamos a estar com eles, o que foi me dito pela minha mãe é que não era pra eu ficar com ela pq ela era "maluquinha", de forma proibitiva. Quando terminou o fim de semana e nos separamos, mantivemos contato por telefone por umas duas semanas, bem apaixonados e até recebi um cartão de natal lindo dela. porém ela morava longe, mas a um ônibus de distância. quis vê-la antes do ano novo mas fui proibido tb e me foi dito que não era pra eu me relacionar com ela por conta da neurotipicidade dela (lógico que não com essas palavras), que eu nem sei qual era. tive que terminar com ela e isso causou crise nela a ponto dela ser internada. e soube disso pois minha família passou, a partir daí a dizer que eu mandei a menina para o hospício. Senti culpa por muito tempo, mas não tinha força nem coragem para buscar contato e anos depois soube que ela passou por um colapso, que se recuperou e que estava casada.


Nunca me apaixonei afetiva-sexualmente por homens, por isso não me considero bissexual, mas se relacionamentos dissidentes eram desencorajados, relacionamentos homoafetivos eram proibidos. então nunca nem olhei para esse lado. E também, por conta do atravessamento da homofobia e transfobia, e por conta de meus traumas por abusos, não fiz esforço para tal. 



sábado, 12 de abril de 2025

 Quanta


Não mereço paz 

Do not! 

Percebo movimentos 

Concebo formas 

Mas não sou quadro, 

Ou saí da moldura 

E encontrei a foto do que nunca fui. 


Eu não mereço 

Do not 

Começo como uma dança 

Um passo ante outro 

Uma nota sobre outra 

Até formar um círculo de desfechos 

Que não se enquadram 

Quadro a quadro 

Que não misturam meus pedaços 

A formar desfiguração 


Venta aqui, 

Da minha janela 

E eu vejo, 

Eu sei que mereço sim, 

paz 

Mas quem bate o telefone nessa madrugada? 

Quem masca três chicletes de menta?

Quem mistura o paraíso ao momento de sentir? 

Quem sabe o que é sentir?? 


Saber é não querer! 

Coração voltado pra si próprio! 

Eu, medo de um outro eu 

Que é o mesmo alguém de agora!


Quanto amor alguém pode ter dentro de si?

E quanta dor?


Ass.: Lean Dieu Valent

11/02/06


2006... 2025...

domingo, 6 de abril de 2025

 Revolusítio - o Manifesto!


Dos Planos


Acreditei que seria possível

Viver uma nova realidade

Baseada no afeto e na troca

Em um lugar onde se faz amor

Pelo amor, e não pela obrigação

Ou necessidade

Criar uma eco-vila

Era um sonho que eu nem sabia que tinha

Mas não eu criar

Eu sou um

Vila pressupõe grupo

Comunidade

Era um sonho, um plano, uma nova sociedade

Pequena, como eu imagino que será o futuro

Construir com as mãos

Com a terra

Algo impensável de onde venho

Mas que me foi apresentado

E eu amei

Não precisar ser social

Na sociedade neoliberal

Não baseada em dinheiro

Mas que usase do dinheiro

Para que fosse possível

Ser independente

Aos poucos

E fugir dos julgamentos

Do que se faz na cidade

Onde o trabalho é coletivo

E retorna frutos de comer

Água de beber

Sol, chuva, mata, terra

Tudo unido num desejo 

De viver os últimos dias

Em comunhão real

Não aquela que aprendi na igreja

Mas na que me foi apresentada

Com planos, objetivos, 

Sem pressa e pressão.

Achei que fosse possível

Acordar e olhar pro céu

E ver as nuvens formando desenhos

Não seria fácil

Nunca imaginei ser fácil

Mas seria possível

É possível

Não desisti, não do sonho

Só adio

Só acredito que agora não dá

Porque o que imaginei

Não imaginei sozinho

E sinto muito

Que as coisas não foram como pensamos

Sinto mesmo

Que não será agora

Talvez não seja

Certamente não vai ser como pensei

Com quem pensei

Onde pensei

Mas já dei o primeiro passo

Preciso achar o rumo agora 

Que estou num caminho 

Desconhecido

Novo

Em outro lugar

Sozinho

Acharei quem queira

Eu acredito

Que é possível

Talvez não no meu tempo de vida

Mas a revolução urge

E o sítio é um lugar físico

Que precisa de terra

Que precisa de papel assinado

Que se encontra em algum cartório 

Não precisa ser o que foi

Não será. Nem quero mais.

Encontrarei 

Quando for o tempo

Mas não agora

E tá tudo bem

A revolução no sítio não tem sítio

Ainda

Mas tem revolução

Dentro de mim

No meu coração

Eu acredito ser possível

Dançar a noite na fogueira

Junto daqueles que amo

E que me amam também

Isso é revolução.


Lean Valente

05/04/2025 - 17:50

quarta-feira, 2 de abril de 2025

 Inveja


Eu sinto inveja.

Sempre senti, percebi agora pouco

A uns dias atrás

Pensando sobre o passado

Sou negro, homem negro

Machucado pela vida

Atravessado pelo racismo

Fruto e uma relação interracial

Mas negro em meu fenótipo

Perdi meu pai cedo

Tive um padrastro branco

Cedo

Padrastro branco de outra época

Onde era normal ser racista

Onde piadas que depreciavam a minha cor

Era comum

Tive, por conta desse padrastro

E por conta de perder meu pai

Cedo

Uma educação em colégio particular

Onde a maioria das pessoas

Eram brancas

Não me sinto atraente

Não me sinto respeitável

Não me sinto 

Percebi que tenho inveja do meu irmão

Que, por ter puxado o fenótipo do meu avô

Que tinha raizes dos povos originários

Possuía o cabelo liso

E raspava

Sentia inveja porque eu passei a gostar de rock

E por mais que o rock seja preto

É branco

De cabelos loiros e lisos

A maioria dos meus amigos eram brancos

E os pretos, aqueles poucos

Eram brilhantes, ou apenas pessoas

Que souberam lidar com esse mundo racista

E eu sinto inveja deles

Por querer ser mais como eles

Sinto inveja de quem é forte fisicamente

Pois sou fraco e magro

Sempre fui

Sinto inveja daqueles que conseguem se impor

Pois sempre fui subjugado

Desde criança

Sinto inveja de quem, pelo menos, finge não se afetar

Pelo que a sociedade oferece

Para nós, que não somos padrão.

Sinto inveja de quem pode ter saúde bucal

Pois meus dentes quebram e já arranquei vários

Sinto inveja de quem tem o carinho da mãe

Não que a minha não seja

É, do jeito dela

Machucada e atravessada também pelo racismo

Perdoei

Mas sinto inveja de quem pode ter

Um colo e não um julgamento

Uma atenção e não um esporro

Um abraço e não um cinto

Sinto inveja de quem consegue estar em seus empregos

Em suas rotinas

Reclamando, mas seguindo

Eu não consigo seguir

Eu desisto

Talvez por ser fraco e magro

Talvez por ser machucado e atravessado

Talvez por ser eu

Sinto inveja do que não sou eu

Não todo não-eu

Mas a maioria do não-eu

Inveja palavra feia

Não deveria sentir

Não deveria ser

Não

Hoje me perdoo por sentir 

Afinal, quem controla sentir?

Quem controla o ser

Quando, como marionete, 

Somos levados e trazidos 

Na maré do neoliberalismo

Tenho 43 anos

Sou homem cis 

Fui hétero a maior parte do tempo

Mesmo ouvindo que mais cinco minutos

Teria nascido “viado”

Mesmo ouvindo que não prestaria pra nada

Mesmo ouvindo que sou preguiçoso

Irresponsável, desatento, sem ambições

Mesmo ouvindo que fui um peso

Criado no patriarcado

Heteronormativo

Ensinado a tratar mulheres com misogenia

Para ser o negro-branco

Aquele que só estuda, e por isso

Tem a obrigação de ser o melhor

Que tirar 10 não é mais que a obrigação

Tenho inveja geracional

Por ter sido criado em uma época

Onde não se entendia o racismo estrutural

Onde não pude expressar subjetividade

Dentro da minha subjetividade

Onde tive que esconder quem sou

E escondo, ainda

Onde um relacionamento era uma vitória

E não uma realização

Onde agarrar as oportunidades era a norma

E eu era fora da norma

E as oportunidades vazavam pelos meus dedos

E o amor vazava pelos meus dedos

Tão liquido quando a água que descia pelo meu corpo

Quando no banho, eu pensava que essa cor poderia sair

Que meu nariz poderia afinar

Que minha orelha poderia ser menos pra frente

Que meu cabelo poderia cachear

Que meu afeto poderia ser entendido

Não como dependência emocional

Mas com uma necessidade

Que eu via sendo trocada

No meu grupo diverso de amigos

Quanto maior o medo

Maior o ódio

Maior a falta

Maior a ansiedade

Maior a depressão.


A maior parte disso se foi

Me perdoei

Por sentir inveja

Mas sinto ainda, e percebo

Que não há o que fazer

Em um lugar de não normatividade

Continuo sentindo inveja

Não quero, não sei o que fazer

Pra além de aceitar e entender

Que alguns motivos eu tenho, talvez

Que não faço idéia de quem sou

Pra além do que queria ser

E nunca fui

Nesse lugar

De simplesmente ser

A expectativa é grande

De todos, porque não tem como mostrar

O quanto atravessado eu sou

Pela inveja

Pelo medo

Por não saber o que fazer

Pra simplesmente ser

Eu.


Lean Valente

02/04/2025

18:35