terça-feira, 15 de abril de 2025

 Sobre Palmitar


Eu palmito não porque tenho preferência por mulheres brancas. Muito pelo contrário. dos poucos relacionamentos que tive, houveram mulheres pretas. Inclusive houveram mulheres pretas que não me quiseram como relacionamento, seja pelos motivos que fossem, uma vez que sempre fui homem eis e atravessado pelo racismo e pelo patriarcado. Eu palmito pq no meu círculo, geralmente, mulheres brancas são maioria (depois de homens brancos), seja pq estudei em um colégio particular a partir dos meus 12 anos, seja pq fui pra universidade antes do sistema de cotas, seja porque gosto de Rock que é um lugar majoritariamente branco, seja pelos lugares que frequentava e me sentia bem, que não o lugar onde vivia, onde mulheres brancas também frequentavam majoritariamente.


E palpitar não é demérito nem algo que eu precise ter vergonha. Ser racializado é uma vergonha. Não para mim, mas pra quem me olha e não consegue enxergar que existe uma pessoa por trás da cor da pele. Já tive afetos gordas, pretas, brancas, neurotípicas. 


Nem todos se transformaram em relacionamentos monogâmicas, uma vez que sempre fui monogâmico, mas, por mais que a sociedade só me validasse ao estar com mulheres brancas, fazendo bullying quando tinha esses afetos divergentes, eu gostava de quem gostava de mim. De quem trocava comigo. Até a troca não existir mais. Por afetos considero paixão platônica (não realizada), paixão realizada, apenas sexo, namoro, casamento. Todo o tipo de afeto, sem levar em conta tempo de relação porque alguns nem se concretizaram e outros eu nem pude concretizar, seja por não ter independência (por ser adolescente e morar com a minha mãe que era a primeira a negar esses relacionamentos por diversos motivos) seja por escolha minha ou do outro. 


Para exemplificar, quando eu tinha por volta de 14/15 anos, houve uma festa de fim de ano na casa da minha mãe num fim de semana com as amigas e amigos dela de trabalho e conheci a filha de uma amiga dela. passamos um dia maravilhoso conversando e nos conectamos. nos beijamos e quando voltamos a estar com eles, o que foi me dito pela minha mãe é que não era pra eu ficar com ela pq ela era "maluquinha", de forma proibitiva. Quando terminou o fim de semana e nos separamos, mantivemos contato por telefone por umas duas semanas, bem apaixonados e até recebi um cartão de natal lindo dela. porém ela morava longe, mas a um ônibus de distância. quis vê-la antes do ano novo mas fui proibido tb e me foi dito que não era pra eu me relacionar com ela por conta da neurotipicidade dela (lógico que não com essas palavras), que eu nem sei qual era. tive que terminar com ela e isso causou crise nela a ponto dela ser internada. e soube disso pois minha família passou, a partir daí a dizer que eu mandei a menina para o hospício. Senti culpa por muito tempo, mas não tinha força nem coragem para buscar contato e anos depois soube que ela passou por um colapso, que se recuperou e que estava casada.


Nunca me apaixonei afetiva-sexualmente por homens, por isso não me considero bissexual, mas se relacionamentos dissidentes eram desencorajados, relacionamentos homoafetivos eram proibidos. então nunca nem olhei para esse lado. E também, por conta do atravessamento da homofobia e transfobia, e por conta de meus traumas por abusos, não fiz esforço para tal. 



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